Parecem-me mais "Fatias de Leão"
"As OPA ou o ano dos jovens leões"
Nicolau Santos
"Expresso" - 18/03/2006
"DIGAMOS o óbvio: a OPA do BCP sobre o BPI não teria acontecido se Jorge Jardim Gonçalves e Artur Santos Silva fossem os presidentes das duas instituições. Na verdade, desde há muito que vigorava um pacto de não agressão entre os maiores banqueiros nacionais, embora os cenários de fusão amigável sempre tivessem sido motivo de conversas mais ou menos aprofundadas. A mudança de lideranças no sector, desejosas de se afirmar, alterou este frágil equilíbrio. Não nos iludamos, contudo: a OPA é protagonizada por Paulo Teixeira Pinto, mas é improvável que tenha sido lançada sem a concordância de Jorge Jardim Gonçalves. Este ou não faria a OPA ou fá-la-ia de outra maneira. Mas as novas lideranças, no BCP como na Sonae, precisam destas operações para provar que se libertaram da sombra tutelar dos seus antecessores.
ESTABILIDADE POLÍTICA
As duas OPA são também consequência da estabilidade política que o país vive. No último ano, empresários, investidores, decisores, numa palavra, os «animal spirits» de que falava John Maynard Keynes, observaram o estilo e a forma de actuar de José Sócrates. E gostaram. Estão confortáveis com o Governo socialista e não esperam surpresas desagradáveis. A eleição de Cavaco Silva para Presidente da República veio reforçar a crença de que haverá estabilidade política até ao final da legislatura em 2009.
A par disso, a Europa assiste a uma nova vaga de OPA’s como não se via desde os anos 90. De acordo com o gabinete de estudos Dealogics, as operações transfronteiriças na Europa, anunciadas desde o começo do ano, ascendem já a 173 mil milhões de dólares, o valor mais elevado desde há seis anos. E começou a tornar-se claro para empresas cotadas em bolsa que quem não crescer por aquisições, ganhando alguma dimensão, corre o sério risco de ser «opado». Chegou, pois, a hora de voltar a investir, de apostar, de arriscar.
A par disso, a Europa assiste a uma nova vaga de OPA’s como não se via desde os anos 90. De acordo com o gabinete de estudos Dealogics, as operações transfronteiriças na Europa, anunciadas desde o começo do ano, ascendem já a 173 mil milhões de dólares, o valor mais elevado desde há seis anos. E começou a tornar-se claro para empresas cotadas em bolsa que quem não crescer por aquisições, ganhando alguma dimensão, corre o sério risco de ser «opado». Chegou, pois, a hora de voltar a investir, de apostar, de arriscar.
A AFIRMAÇÃO DOS NOVOS LÍDERES
NOS ÚLTIMOS três anos assistiu-se em Portugal a uma lenta mas consistente passagem de testemunho entre os líderes incontestados dos grupos que nasceram ou se recompuseram após 1974 para uma nova geração de dirigentes, excepcionalmente bem preparados nas melhores escolas de gestão mundiais e que entretanto fizeram o seu tirocínio no próprio grupo ou em empresas internacionais. Paulo Azevedo, 40 anos, e Paulo Teixeira Pinto, 45, representam bem essa nova geração de gestores de topo, que no entanto necessitam de ganhar as suas esporas de cavaleiro, a sua carta de alforria. Estas operações são também a marca de água que os distingue. Paulo Azevedo foi o mentor da OPA da Sonaecom sobre a PT. Paulo Teixeira Pinto foi quem propôs avançar sobre o BPI.
NADA SERÁ COMO ANTES
Paulo Azevedo e Paulo Teixeira Pinto correm, no entanto, sérios riscos. Iniciaram um movimento que se sabe como começou - mas não como vai acabar. Como dizia Samora Machel, não se pode parar o vento com as mãos. O mercado português ficou debaixo dos holofotes internacionais. Mesmo que as duas operações resultem, ainda assim as empresas daí nascidas continuarão a ser pequenas no plano europeu e mundial. Logo, o risco de serem «opadas» não pode ser descartado.
Os fundos internacionais podem encontrar um parceiro português, que seja o seu testa-de-ferro para uma OPA concorrente sobre a PT. Estará o Governo disponível para recusar uma operação deste tipo, com características meramente financeiras, em detrimento do projecto industrial da Sonae?
Por seu turno, o BCP soltou todos os demónios ao avançar para a OPA sobre o BPI. Há quatro anos, o BBVA perguntou ao Governo de Durão Barroso e ao Banco de Portugal qual seria a reacção se comprasse um banco português. A resposta foi que não haveria problema desde que a compra não fosse hostil. A partir de agora, nem o Governo nem o banco central estão em condições de dizer, a quem quer que seja, para não comprar um banco em Portugal. Paulo Teixeira Pinto lançou a OPA sem perguntar às autoridades nacionais. Porque é que qualquer outro banco, nacional ou estrangeiro, o há-de fazer a partir de agora?
Os fundos internacionais podem encontrar um parceiro português, que seja o seu testa-de-ferro para uma OPA concorrente sobre a PT. Estará o Governo disponível para recusar uma operação deste tipo, com características meramente financeiras, em detrimento do projecto industrial da Sonae?
Por seu turno, o BCP soltou todos os demónios ao avançar para a OPA sobre o BPI. Há quatro anos, o BBVA perguntou ao Governo de Durão Barroso e ao Banco de Portugal qual seria a reacção se comprasse um banco português. A resposta foi que não haveria problema desde que a compra não fosse hostil. A partir de agora, nem o Governo nem o banco central estão em condições de dizer, a quem quer que seja, para não comprar um banco em Portugal. Paulo Teixeira Pinto lançou a OPA sem perguntar às autoridades nacionais. Porque é que qualquer outro banco, nacional ou estrangeiro, o há-de fazer a partir de agora?
O DESTINO DOS PAULOS
Para o mal ou para o bem, estas OPA vão marcar o futuro dos dois Paulos - mas também a ideia que vamos criar desta nova geração de líderes e gestores. Se tiverem sucesso, confirmam que já se libertaram da sombra tutelar dos que os antecederam e que vão projectar a sua imagem bem para lá deles. Se não... É que do outro lado também estão jovens leões. A luta vai ser renhida. «Les jeux ne sont pas faits».
P.S. - Na semana passada critiquei o Santander por ter bancado a operação da Sonae sendo o banco que mais trabalhava com a PT, o que lhe possibilitaria acesso a informação confidencial. Do Santander dizem-me que não é assim, da PT insistem que sim. Se errei, as minhas desculpas ao Santander. Nunca quis pôr em causa a credibilidade da instituição."
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