terça-feira, dezembro 20, 2005

5 aninhos

"O futuro da Galp e de Amorim"
Nicolau Santos

Expresso - 17/12/2005

"A COMPRA de mais de um terço do capital da Galp por parte de Américo Amorim merece uma séria reflexão. É que sob a capa de se estar a tentar resolver um problema - a posição dos italianos da ENI, que controlam uma minoria de bloqueio e podem chegar aos 43% - pode estar-se a arranjar outro bem mais irremediável a prazo.

Amorim tem um notável trajecto empresarial no sector da cortiça, onde é líder mundial. Foi fundador do maior banco privado português, o BCP, e investiu nas telecomunicações, estando no núcleo inicial da Telecel. Nunca deixou de apostar no sector financeiro e hoje é o maior accionista privado do espanhol Banco Popular. E o sector imobiliário e turístico também estiveram na sua mira.

Acontece, contudo, que nos últimos anos Américo Amorim tem trocado as suas posições industriais por participações financeiras, i.e. tem trocado o que exige capacidade de gestão por liquidez imediata. Pode ser coincidência mas foi o que fez António Champalimaud nos últimos anos de vida, ao concluir que entre os seus filhos vivos não havia nenhum com condições para lhe suceder. E acontece também que Amorim entra e sai com facilidade dos negócios onde investe, com excepção da cortiça.

Ora se isto é assim, este investimento na Galp corre o sério risco de não ser estrutural, mas apenas pelo prazo de cinco anos em que Amorim não pode vender a participação. Há ainda outros dois riscos. O primeiro tem a ver com os accionistas que o empresário traz para a Galp: que mais-valia acrescentam à petrolífera portuguesa? O segundo tem a ver com o facto do financiamento da operação ser garantido por duas instituições financeiras espanholas, o Banco Santander e a Caja Galiza. O que acontece se alguma coisa correr mal?

O Governo e Amorim assumem uma pesada responsabilidade nesta operação. O Governo porque aceitou esta solução sabendo que havia outros grupos portugueses interessados. Amorim porque se tornou uma peça-chave no futuro da única petrolífera nacional. Daqui a cinco anos falamos."