terça-feira, janeiro 03, 2006

E vão mesmo

"Espanhóis poderão integrar conselho superior da eléctrica
Talone diz que entrada da Iberdrola no governo da EDP é inaceitável"

C.F./PÚBLICO - 03.01.2006 - 09h35

«João Talone, presidente executivo da EDP - Energias de Portugal, atacou ontem a possível entrada da espanhola Iberdrola nos órgãos sociais da eléctrica portuguesa, por estar em causa a possibilidade de um concorrente poder ter acesso às orientações estratégicas definidas pelos accionistas para a eléctrica nacional.

A Iberdrola é representada em Portugal pelo deputado socialista Joaquim Pina Moura, o ex-ministro da Economia do PS, que negociou a entrada da operadora espanhola na EDP (onde tem 5,7 por cento).
Em comunicado emitido ontem ao final da tarde, e falando em seu nome pessoal, Talone considera "totalmente inaceitável" que "um dos mais importantes concorrentes da EDP" possa "integrar o futuro governo" da empresa, "tendo acesso e participando na decisão da sua estratégia futura", situação que em "Espanha seria ilegal".
Manuel Pinho, ministro da Economia de José Sócrates, já admitiu a possibilidade da Iberdrola poder integrar o conselho superior da EDP, onde estão todos os accionistas com posições qualificadas (superiores a dois por cento) e que aprovam as orientações estratégicas da empresa portuguesa. De acordo com Pinho a eléctrica espanhola não terá acesso ao conselho de administração, onde estão os gestores profissionais com funções executivas. Este foi o modelo proposto ao Governo (que o aceitou) pelos accionistas privados (BCP, Mello, Stanley Ho, Iberdrola, Cajaastur, CGD).
Talone lembra que "não houve qualquer posição inequívoca pública dos accionistas qualificados contrariando" a solução avançada pelo Governo de admitir a presença da eléctrica espanhola na estruturas de gestão da EDP.
Gestor está de saída
O gestor afirma que terminou a 31 de Dezembro o "período formal" do seu mandato, explicando que não é sua "intenção fazer novo mandato". E manifesta-se disponível para a partir de agora ter uma intervenção mais pró-activa, interna e publicamente, "comentando" iniciativas que possam "afectar a empresa", a sua "independência" e o interesse dos seus accionistas. Isto, porque "embora tenha havido muita especulação recentemente sobre este tema, até hoje nenhum accionista qualificado (público ou privado) tomou a iniciativa de falar" com o gestor sobre se continuaria ou não à frente da empresa.
Para além da Iberdrola, são accionistas da EDP o Estado e a CGD, com uma posição conjunta de 25 por cento, o BCP, com seis por cento, e a espanhola Cajastur, com 5,53 por cento. O empresário macaense Stanley Ho, que detém 2,5 por cento da EDP, já confessou o desejo de elevar a sua participação para cinco por cento. Por sua vez, Vasco de Mello, da Brisa, que controla dois por cento da operadora, afirmou que estava disposto a sair da eléctrica.»