segunda-feira, junho 12, 2006

Se calhar com isso já não se lidaria tão bem

As outras metas que devíamos alcançar
Nicolau Santos
"Expresso" - 10/06/2006

«AGORA que nos preparamos para colocar o destino do país durante o próximo mês nos pés de onze homens e que definimos como meta mínima chegar aos oitavos-de-final no Mundial de futebol, era bom que apontássemos para outros objectivos bem mais importantes e que rejubilássemos com outras vitórias. Por exemplo:

1- Colocar o país a crescer a uma taxa de 4% ao ano até 2010. É possível, já por lá andámos no final da década de 80 e é desesperadamente urgente. Sem um crescimento acima da média comunitária, consistente, não só continuaremos a afastar-nos da média comunitária e a empobrecer em termos relativos, como teremos grande dificuldade em evitar o agravamento do desemprego, que só começa a cair a partir do momento que a economia está a crescer acima dos 2%.

2- Acabar com as situações de exclusão social ou de pobreza envergonhada que atingem dois milhões de portugueses em dez anos. Um país que carrega o negro troféu de ser o Estado da União Europeia onde as desigualdades sociais são maiores, a par de ter um dos rendimentos «per capita» mais baixos, não pode deixar de fazer um enorme esforço para reduzir as chagas sociais que o atingem. E as empresas têm o dever de contribuir para esse objectivo.

3) Tornar Portugal um país atractivo para técnicos e investimentos estrangeiros, transformando-nos na Califórnia da Europa. Isso implica desburocratizar, descer impostos, flexibilizar o mercado da habitação, oferecer bons serviços de saúde, divulgar a qualidade de vida do país no estrangeiro - mas também criar um ambiente cultural efervescente, que faça sentir bem quem decidir vir viver para Portugal.

4- Desenvolver continuadamente uma cultura de sucesso, que incentive o mérito e a excelência, em detrimento da inveja e da mediocridade. Portugal tem inúmeras facetas positivas na arquitectura, na música, no mundo empresarial, na ciência, na inovação, no turismo - e tem inúmeras personalidades, que vivem no país ou no estrangeiro, que se distinguem brilhantemente nas suas áreas de actividade. Há que divulgar continuadamente esses exemplos. Haverá muitos jovens que os quererão imitar.

Nós somos o país de Saramago e Lobo Antunes, de Siza Vieira e Souto Moura, de Maria João Pires e António Damásio, de Cutileiro e Cargaleiro, de Paula Rego e Júlio Pomar, de Pessoa e Amália, de Mourinho, Figo e Cristiano Ronaldo. Com estes rostos é fácil fazer uma grande campanha de imagem.

P.S. - Já agora, alguém pode explicar porque é que, tendo nós o melhor treinador do mundo (José Mourinho), não é ele o treinador da selecção nacional?»