segunda-feira, julho 17, 2006

A nova economia

Nicolau Santos - "A economia está cada vez mais perigosa"
Expresso - 15/07/2006
NO MOMENTO em que escrevo, o preço do barril do petróleo está prestes a ultrapassar os 77 dólares, quando em 2004 andava na casa dos 30 dólares. O cenário dos 80 dólares já deixou de ser uma ficção - mas a escalada não deve parar por aqui. E já houve quem apontasse para um barril a 100 dólares. A guerra aberta no Médio Oriente, entre Israel, o Líbano e a Autoridade Palestiniana, a recusa do Irão em abandonar o seu programa nuclear, a explosão de um «pipeline» na Nigéria, os mísseis testados pela Coreia do Norte perante a irritação do Japão e o facto de os «stocks» de crude dos Estados Unidos estarem muito abaixo do que os analistas previam constituem um «cocktail» explosivo que vai continuar a empurrar o preço do ouro negro para a estratosfera. Junte-se a isto a espiral nacionalista em países produtores de petróleo e gás natural e o consumo crescente da China, Índia e Estados Unidos, e não se vê como podemos dormir descansados.

Acresce que, como nota António Costa e Silva em texto publicado neste caderno, Vladimir Putin se prepara para utilizar uma outra fonte de energia, o gás natural, para restaurar o poder e influência da Rússia, fazendo dela «a superpotência energética de que todos devem depender e, por isso, pagar um preço político». Para além do jugo geoestratégico, a outra consequência será inevitavelmente a subida do preço do gás natural.

Por tudo isto, e como é liminarmente evidente, os bancos centrais, em especial o BCE, estão particularmente sensíveis às tensões inflacionistas, pelo que é de esperar novos aumentos das taxas de juro: dos 2,75% actuais ninguém se espantará se chegarmos ao final do ano nos 3,25% ou mesmo 3,5%. Temos assim, pela frente, o pior cenário possível: aumento do custo do dinheiro e do barril do petróleo, acompanhado pela necessidade de continuar a reduzir o défice, quer por via da diminuição das despesas quer do aumento das receitas - tudo tendo por pano de fundo um crescimento ainda muito fraco e uma subida sustentada do desemprego, agravada pelo mediatismo de certos casos, como o encerramento da fábrica da General Motors na Azambuja.

Num quadro destes, ou desistimos ou vamos à luta. Na verdade, não há duas hipóteses: temos mesmo de ir à luta. E há alguns bons sinais. O crescimento, embora insuficiente, está a ser empurrado pelas exportações, com destaque para os mercados fora da União Europeia (Angola, China e Estados Unidos). Existe um conjunto de empresas que se estão a afirmar nos mercados externos, desde sectores mais tradicionais (Efacec, Valadares, Renova, Mota Engil, Grupo Pestana, Vila Galé...) até às de tecnologias de informação, passando por filiais das multinacionais instaladas no país (Siemens, Bosch, Vulcano, Autoeuropa...). E há uma consciência crescente que - embora o Estado tenha de fazer o seu trabalho de casa, apertando o cinto e parando de absorver recursos necessários para a economia - a sociedade civil, trabalhadores e empresas, tem de fazer a sua parte, trabalhando melhor e investindo com mais qualidade. Como a selecção nacional mostrou, não temos nada de genético que nos condene a ser inferiores aos outros. Também na economia há várias empresas que estão a dar o mesmo exemplo.