quinta-feira, setembro 14, 2006

Golo!

"Assim vale a pena"
Eduardo Prado Coelho
Público - 14/09/2006
Nos últimos anos, eu praticamente deixei de ir aos estádios de futebol. Aquela prática que tinha começado, já há muitos anos, quando o meu pai me levava a alguns desafios. Sempre ao Estádio Nacional, porque ele não ia a outros. Mas ver um jogo em que estamos empenhados em casa, sozinho, é algo tão triste como comer só uma lagosta no restaurante. Há coisas que têm de ser feitas em conjunto para que a alegria e a tristeza sejam partilhadas. Outras não exigem isso. Não é preciso mais pessoas para ouvir Chostakovitch em disco, afundados num sofá. Nem convém estarmos juntos se vamos comer esse grau zero da culinária que é um "peixinho cozido".
A ideia de sair de casa, ficar no carro em longas filas de espera, andar à procura de lugar para estacionar, depois seguir multidões ansiosas por chegar, ou que regressam com comentários desportivos ao alcance de qualquer bolso, exaspera-me. A minha experiência mais recente não foi muito compensadora. Tratava-se do Sporting e do Porto, em Alvalade. Rapidamente senti, com as garras afiadas da mais fácil intuição, que o Sporting não estava nos seus dias e que ia ser um longo calvário. Vim cá fora tomar cafés, fui à casa de banho, na esperança de que, durante a minha ausência, marcassem o golo redentor. Voltava e nada.
Anteontem, quase convencido de que a derrota era inevitável, tentei de novo e fui ao Sporting-Inter. E percebi claramente as vantagens de estar acompanhado e fazer a festa mesmo com desconhecidos a quem me ligava um sportinguismo indefectível. E que grande jogo! Já há muito que me não entusiasmava tanto num desafio de futebol.
Porque não era só vencermos, porque não era só vencermos um dos grandes clubes da Europa, era mostrar que tínhamos uma equipa, uma verdadeira equipa, como há muito o Sporting não tinha.
Temos um treinador excepcional: Paulo Bento. É um homem calmo, sereno mas firme, capaz de estabelecer a ordem baseada não no medo mas na cumplicidade entre os jogadores, com notável visão de jogo e que transmite segurança a todos os que o ouvem falar. Curiosamente, para a UEFA, não pode ser reconhecido como treinador porque não tem o quarto nível de treinador. Oficialmente, o treinador do Sporting foi Carlos Pereira.
Temos também uma equipa jovem, que é preciso conservar e continuar a trabalhar como se fossem as jóias da coroa. Nani é um portento, Miguel Veloso foi uma verdadeira revelação, João Moutinho já é uma referência clássica apesar da sua idade. E Yannick Djaló, que foi mais convincente do que aqueles que poderiam substituí-lo e que ainda não me convenceram - nem Alecsandro, nem Bueno. E depois temos Polga, absolutamente admirável, Marcos Caneira (aquele golo foi deslumbrante), o terrível Liedson, um Tonel magnífico e um Ricardo que, quando começa a acertar, é seguríssimo (muito sensível às questões psicológicas). Sem falar naqueles que estão lesionados, e que são também excelentes, como Custódio ou Paredes, o intelectual da equipa. Esperemos que toda esta força se mantenha.